0

Sentada escrevendo, veio aquela vontade de tomar uma xícara de cappuccino, dessas de cafeteria, grande e com o leite cremoso. Não sei porque, mas vinha sentindo com mais frequência essa vontade. Naquele dia, o céu estava cinza, e parece que quando assim, o ritual de cafeteria é mais bem-vindo. Meus filhos ainda dormiam e o meu marido tinha saído de casa. Aquele silêncio me deixava imersa em minhas ideias, em minha companhia — que para mim, sempre foi boa. Era quarentena. Uma segunda-feira.

Onde moramos é bem tranquilo e esta segunda estava um pouco mais silenciosa, pois ninguém cortava grama e na rua quase não passavam carros. O clima pedia mais um casaco, por isso vesti um por cima da blusa de frio e toda essa atmosfera alimentava meu encontro. Desci as escadas, e por causa da quarentena, ninguém de fora trabalhava em casa — mais um ponto a favor para o meu esperado e solitário momento. Eu geralmente não tomava muito café durante o dia, mas aquele único, no meio da manhã, era um ritual. Era uma pausa, um aconchego, um prazer. Eu já tinha tomado meu café da manhã bem cedo, e a cozinha estava toda arrumada. Liguei a cafeteira para ir esquentando, enquanto eu pegava o leite na geladeira. Coloquei uma pequena quantidade no compartimento da máquina; o suficiente para fazer a espuma. No armário, peguei uma xícara com pires e coloquei no micro-ondas por 30 segundos, para a bebida permanecer quentinha até a última gota. Antes de prepará-la, abracei a porcelana com as minhas mãos para elas esquentarem um pouco. Escolhi a cápsula – não muito forte, não muito fraca. Apertei o botão para sair a quantidade máxima. O vapor se espalhou pelas minhas narinas e antecipou o prazer. Depois, por cima do café cremoso, apertei o outro botão e a máquina apitou a saída do leite. O frio sugeria polvilhar um pouco de canela em pó, mas desisti. Na despensa, tinha um pacote de biscoito Maria aberto. Peguei duas bolachas, apoiei-as no pires e me sentei. Antes de dar o primeiro gole, aproximei o recipiente do nariz, para sentir mais uma vez o cheiro daquele momento. Dei o primeiro gole, aconchegando a xícara nas mãos, e o sabor foi gratificante. Fui revezando devagar o café com o biscoito para saborear o momento. Ao final, peguei uma colher e raspei o restinho da espuma de leite. Pronto. Já estava abastecida de prazer e voltei para a escrita. De volta à história, a protagonista estava desempregada e saiu cedo de casa para mais um dia de busca por trabalho. Ela já tinha enfrentado dificuldade demais, e estava na hora de um reverso. Em um daqueles acasos da vida real, ela acabou conseguindo uma oportunidade como garçonete em uma cafeteria, o que foi apenas o início de uma nova carreira. Naquele emprego, descobriu sua paixão por café…

Johanna Homann

Author Johanna Homann

More posts by Johanna Homann

Join the discussion 2 Comments

Leave a Reply